18.5.07

Síndrome de Grève

(*) Wessery Zago
BELO HORIZONTE/MG

A palavra greve origina-se do francês grève, com o mesmo sentido, proveniente da Place de Grève. E com tantas greves acontecendo no país, a explicação é bastante lógica.

A fragmentação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis – IBAMA – por meio da Medida Provisória 366 é o principal motivo da greve dos servidores do Instituto.

Para o governo a lentidão do IBAMA no exame do processo ambiental das usinas do rio do Madeira foi a gota d’água para dividir o instituto, separando funções de concessões de licenças ambientais da preservação ambiental.

Os servidores em greve reivindicam que o governo federal retire a MP que divide o IBAMA em dois órgãos, criando o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Para Marina Silva, ministra do meio ambiente a nova estrutura será melhor para o país, sendo estratégico e necessário para o reforço da gestão ambiental. Concordo. Um país com a potência ambiental como o Brasil não se pode permanecer com a mesma estrutura criada há 19 anos.

Ouvi o deputado Almir Paraca (PT) e, como defensor ferrenho das questões ambientais disse compreender a insegurança dos servidores que é a mesma insegurança dos servidores do antigo IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Palavras do deputado: “É fundamental um crescimento econômico voltado para a inclusão social com distribuição de renda e qualidade de vida para a população e a criação do Instituto Chico Mendes é uma medida que modernizará e reestruturará o IBAMA. Mas as negociações devem ser conduzidas com mais absoluta transparência e cautela”

Para Daniel Vilela, presidente da Associação dos Servidores do IBAMA em Minas Gerais, “a reforma estrutural do IBAMA, implementada pela MP 366, atinge mortalmente o instituto enquanto órgão responsável pela execução da política nacional de meio ambiente”. Descordo. Primeiro que a divisão não implicará demissões. Até porque o número de técnicos concursados do instituto passou de 76 em 2003 para 127 hoje e, de acordo com a ministra Marina Silva, já foi autorizada a contratação de mais 305 funcionários. E, segundo, garantir um padrão de eficiência compatível com as exigências de infraestrutura do país já justifica a iniciativa do governo. E por último, Daniel, era indispensável que, para não tolher o crescimento, o governo tomasse a atitude que tomou.

Doutor Viana (DEM), vice-presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em seu pronunciamento do dia 16, questionou se é esse o melhor caminho e a real solução para o impasse criado pelo governo. “Creio que o governo tomou uma atitude errada como medida de retaliação ao IBAMA que não atendeu o pedido de urgência na aprovação do projeto da hidrelétrica do Rio do Madeira. Na minha opinião, o desenvolvimento do país não pode acontecer a qualquer custo”.

Infelizmente o presidente falou pelos cotovelos quando ele afirmou que os grevistas são contra a modernização e que servidores em greve remunerada estão de férias. Uma afirmação dessas vindas de um ex-sindicalista que mais ficou de “férias” do que trabalhou, no mínimo, lhe faltou inteligência. O que os servidores mais querem, senhor presidente, é respeito e consideração. Mais nada.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo.

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