30.5.07

O bem aventurado São Francisco

(*) Wessery Zago
BELO HORIZONTE - MG

No 6,o Fórum das Águas realizado na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, colegas jornalistas e meia-dúzia de parlamentares me perguntavam qual a minha opinião sobre a transposição do Velho Chico.

Da forma que está sendo colocado o projeto de transposição do Rio São Francisco, como jornalista sou contra. Como cidadão, também. Alguns falam que Minas e Bahia estão negando água para o nordeste e isso não é verdade. Sempre me atenho à fatos, dados e pesquisas e no meu ponto de vista o projeto de transposição do Rio São Francisco é injustificável.

Vejam bem! No eixo norte, por exemplo, que levará água para o Ceará e Rio Grande do Norte – desde a época de JK – há um número considerado de açudes construídos e, neles, há 37 bilhões de metros cúbicos de água. Em números, são 37 trilhões de litros. É claro que lá não é como cá. Chove-se pouco mas, chove-se a metade do que chove por aqui, mais ou menos uns 700 milímetros de chuva ao ano. E toda essa água, fica reservada nesses açudes. Entretanto, devido ao calor, grande parte dessa água evapora e, mesmo assim, fica-se uma imensa quantidade.

O governo alega que o grande problema é transportar essa água para o povo consumir. Mas, se o problema é esse, o investimento então, tem que ser feito no transporte dessa água para a população que precisa. E é bom esclarecer que, 35% dessa população está dispersa e será caro demais levar água para eles. Mas, mais caro ainda será levar as águas do Velho Chico - ou de um outro rio qualquer - para lá e de lá para a população. O problema continuará o mesmo.

Outro questionamento do governo se refere às casas precárias dos moradores que são cobertas com folhas de babaçu e palmeiras e, sendo assim construídas, é claro que não há como coletar a água da chuva. Eu pergunto: É justo uma moradia assim... Acho que não, né!

O custo da transposição está orçado em R$ 6,6 bilhões, só na primeira etapa. Então pega um pouco desse dinheiro, faz um programa de habitação para essa gente, constrói moradias descentes, com telhas e calhas, que possa coletar a água da chuva direcionando-a para cisternas. A água daria para as pessoas sobreviverem e o problema estaria resolvido no local.

A verdade, verdadeira, é que esse discurso de abolir o caminhão pipa e lata d’água na cabeça no semi-árido brasileiro, é para atender culturas irrigatórias e criação de camarão. Além disso, há uma questão que quase ninguém ou ninguém, ainda, falou. A questão da vaidade do governo federal.

Com uma obra desse porte, qualquer governo, seja ele bom ou ruim, ficaria imortalizado na história e os empreiteiros nadariam de braçada numa obra que, sendo tocada a toque de caixa, seria muito difícil segurar a corrupção.

Para mim, mais do que essa tal de transposição, a revitalização do Velho Chico deveria ser a prioridade do governo federal, uma vez que sua vazão outorgável já está comprometida. O São Francisco é uma reserva estratégica para uma extensa gama de estados. O que deve ser feito é pegar os R$ 6,6 bilhões e investir na revitalização do solo, na recomposição das matas ciliares, de encostas e topos, evitar enchentes, perenizar cursos que, hoje, estão secos, proteger as nascentes e mais do que isso, estabelecer programas de educação ambiental para a população. É ai que devemos gastar esse dinheiro e não joga-lo enxurrada abaixo.

E digo mais: o governo mineiro deve ter uma preocupação extra com a conservação de nossos cursos d’água, pois nossos rios acabam cortando diversas regiões do Brasil. Considero as águas das Minas Gerais estratégia para o país devido a qualidade.

E mais uma vez: "Que seja bem aventurada a irmã água"


(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo.

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