18.2.09

A quarta idade


“Velhice faz parte da vida, por isso temos de aprender a lidar com ela”

Ao mesmo tempo em que aumenta a expectativa média de vida nos países desenvolvidos, cresce a preocupação não só com a formação de profissionais que atendem idosos, mas também o preparo das pessoas para a velhice.
Seja na Alemanha, no Brasil ou em Vilcabamba, no Equador, a expectativa média de vida está em crescimento constante.
Na Alemanha, ela nunca foi tão alta como agora: 78 anos, enquanto a do Brasil gira em torno dos 72 anos. O aumento da longevidade até já criou um termo novo entre os gerontólogos: a "quarta idade". E outro dado interessante: mais de 16% da população alemã tem mais de 65 anos. Por outro lado, o número de pessoas com mais de 65 anos é maior do que o de jovens com menos de 15.
Este envelhecimento da sociedade envolve várias preocupações, que vão desde a formação de profissionais até a preparação das pessoas para seu envelhecimento. É claro que, tanto no Brasil quanto na Alemanha, o ideal continua sendo o da juventude.
Basta ver o mercado de trabalho. As pessoas que perdem o emprego na Alemanha aos 50 anos quase não têm chance de encontrar uma nova ocupação. Mas, pelo fato de na Alemanha haver mais idosos, é mais comum encontrá-los no dia-a-dia, andando de bicicleta ou fazendo as próprias compras. Eles são bem mais independentes do que no Brasil.
Esse aumento da expectativa de vida levou os peritos a definir uma nova fase na vida a partir dos 80 anos: a quarta idade. É uma classificação aparentemente muito teórica, mas ela tem uma finalidade prática, pois diferencia o tratamento dado aos idosos. Para muitos, a terceira idade, mais ou menos dos 65 aos 80 anos, é uma fase da vida muito agradável, sem obrigações profissionais ou familiares.
Já a partir dos 80 anos, muitos são confrontados com aspectos da velhice nem sempre agradáveis, como doenças crônicas ou menos mobilidade. São problemas desagradáveis e que não correspondem aos ideais de dinamismo e independência que se vê nas propagandas.
Esta fase faz parte do processo da nossa vida, por isso temos de aprender a lidar com ela. Quem não tem a vida interrompida por morte súbita, invariavelmente vai chegar a este período, em que necessita de cuidados de outras pessoas.
Viver para além dos 100 anos em plena posse das nossas capacidades físicas e mentais é uma perspectiva cada vez mais real.
É sabido que a nossa realidade social, econômica e cultural está ainda um pouco aquém daquela que já hoje se vive na Europa desenvolvida. Todavia, este fato, ao invés de ser considerado como uma dificuldade, poderá reverter-se para nós numa oportunidade, na medida em que permite antevermos melhor o curso provável das situações e, assim, evitarmos incorrer em erros que outros anteriormente cometeram.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo

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