4.12.08

A crise a humanidade

(*) Wessery Zago

É óbvio que a crise financeira que atingiu os EUA já chegou no Brasil e a questão não propõe apenas um alerta. Propõe acima de tudo um desafio.
Os governos – surpreendidos pela crise financeira global – como num passe de mágica despejaram recursos bilionários para impedir a falência de bancos e “outras empresas” arrastasse toda a economia a um colapso.
China, Grã Bretanha, Alemanha, Japão e até países como o Brasil se desdobraram para injetar recursos no mercado e impedir o contágio da crise imobiliária. Agora, em meio a essa avalanche de recursos que, somados, chegam a trilhões de dólares, a ONU está fazendo um singelo pedido: quer que os países façam a doação de US$ 7 bilhões para impedir que 30 milhões de moradores da África e do Oriente Médio, vítimas de conflitos ou de tragédias naturais, sucumbam à fome ou à falta de condições sanitárias e habitacionais mínimas.
É claro que o valor pedido pelas autoridades das Nações Unidas é constrangedoramente ínfimo se compara com os montantes dados de mão aberta e mobilizados para salvar instituições que perderam na roleta das finanças ou na falta de visão ou de competência de seus dirigentes.
Vejam vocês que com um décimo dos recursos usados na salvação dos bancos, o planeta poderia promover um salto na qualidade de vida de bilhões de seres humanos, que hoje vivem em níveis miseráveis. Seres que não tem acesso à educação, que sobrevivem em casebres infectos, que viverão e morrerão sem assistência médica e que transmitirão essas condições a seus filhos e netos.
No meu ponto de vista, a crise financeira global não pode servir de argumento e de desculpa para que esses países ricos se esquivem dos deveres de solidariedade que sua condição impõe.
As projeções para 2009 são de aumento de desemprego. Estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam para mais 5 milhões ficarão sem serviço, número que, dependendo do aprofundamento da crise, poderá ser ainda maior. Como toda crise que ocorre, haverá a desaceleração da economia mundial e, conseqüentemente, a classe patronal recorrerá às medidas mais simplistas e imediatas para preservar seus interesses: promover o desemprego, empurrando uma massa de trabalhadores para o mercado informal.
Quem se lembra do discurso otimista do governo brasileiro dizendo que o país não seria afetado pela crise? Os efeitos começam a aparecer no setor bancário e produtivo e podem ser catastróficos.
Empresas como a Sadia, Aracruz, Votorantim Papel e Celulose e a Petrobrás estão entre as vítimas da desvalorização do real. A Aracruz anunciou prejuízo de R$ 1,9 bilhão nos negócios com o mercado de câmbio e a Sadia o montante de R$ 760 milhões. O grupo Votorantim comunicou ao Banco Central que teve perdas de R$ 2,2 bilhões em operações de câmbio, o maior prejuízo divulgado por uma empresa brasileira desde o início da crise de crédito. Já a Petrobrás Distribuidora registra perdas de R$ 118 milhões com operações de hedge (proteção cambial) para cobrir a comercialização de querosene de aviação.
O setor automobilístico, também, já deu sinais de que a crise bateu às portas. Várias montadoras – entre elas a FIAT (Betim) e a General Motors (Rio grande do Sul) – já pisaram no freio ao suspenderem, temporariamente, a produção de veículos.
Como se pode ver, a crise financeira internacional desembarcou no Brasil e comprometeu o crescimento econômico do país em 2009. Os 5% que o Brasil cresceu em 2007 e 2008 ficarão na história como um “vôo de galinha”.

EM TEMPO
Minutos após ao término desse artigo, via telefone, sou informado que Vale do Rio Doce anunciou a demissão de 1.300 empregados no mundo, o que equivale a 2,1% dos seus 62 mil funcionários espalhados por 30 países. A empresa informou, ainda, ter dado férias coletivas a 5.500 trabalhadores.
Só em Minas Gerais foram fechados 260 postos de trabalho, 20% do total de demissões. Entre os empregados em férias coletivas, 4.400 (80%) são da unidade mineira da empresa.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo

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