26.2.07

Fome: Cavalheiro Apocalíptico


(*) Wessery Zago

AGÊNCIA WZ NOTÍCIAS/BELO HORIZONTE -MG

Quem já não ouviu falar do tempo em que a tragédia batia à porta dos homens de maneira diferenciada e identificada como “Os Quatro Cavalheiros do Apocalipse” ?

Naquela época apenas a Guerra, a Fome, a Peste e a Morte nos importunavam. Apenas! Hoje, diferentemente trágico o “Apocalipse” amplia-se em forma de Guerra; de Fome; Peste; Morte; Fogo nas Florestas; Inundações de cidades inteiras, tanto pelas águas como pela areia, Ventos Ciclópicos, Degelo Irreversível dos pólos e dos glaciais; Poluição do ambiente que danificam as defesas do planeta; Terrorismo Fundamentalista; Injustiça Social e Econômica que atira povos inteiros para o desespero e, é claro, a Corrupção Institucionalizada que infecta um pouco por todo o lado.

Eu, também, gostaria de citar outros apocalípticos problemas como o Aquecimento Global; o Petróleo, o Ódio, a Inveja, a Ambição Desmedida, a Tirania e a Hipocrisia. É! A verdade é que o “mal” já esteve tão perto de vencer e esmagar as virtudes que prefiro focar somente um determinado assunto. A Fome. Essa é um dos grandes males do planeta e do Brasil.

A fome precisa ser vista como um problema político e de cidadania, para um consenso e cooperação entre Estado e Sociedade civil organizada.

Mais uma vez o meu cálice transbordou no dia em que a TV Globo, em capítulo apresentado pela novela Páginas da Vida, levou ao ar cenas marcantes da realidade do povo africano. Lá, homens, mulheres, jovens e crianças, muitas crianças, simplesmente morrem e o mundo fecha os olhos e detém a verdade absoluta sobre esse “cavalheiro apocalíptico”.

Ao contrário da África, onde a fome se encarna no corpo esquálico - pele e osso - no Brasil a ausência de nutrientes essenciais e a falta de higiene (água contaminada, e falta de saneamento básico) provocam distúrbios glandulares e resultam em obesidade, hipertensão, barrigas estufadas de vermes e outros sintomas tão freqüentes nas áreas habitadas pela população de baixa renda e miseráveis.

O Governo do Brasil, disfarçadamente, lançou o Fome Zero e a Fome continuou gorda. Muito gorda.

Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo Fome Zero de que há 11,4 milhões de famílias “vivendo” com renda abaixo da linha da pobreza, ou seja, na absoluta miséria, é tão mentiroso. Há muito mais famintos no Brasil e é impossível uma família viver com uma renda per capita inferior a R$ 5 reais por dia. Aqui, há fome sim. Muita fome mesmo.

Vejam vocês. Dias desses, assistindo uma reportagem sobre o semi-árido o repórter mostrou calangos e cactus servindo de alimento para famílias famintas.

É comum, também, ver o desperdício de alimentos pela classe média, média-alta e alta. Você vai em um restaurante selp serv- e colocar bem acima do que você come. O resultado: o restante vai para o lixo. Quero dizer: nem sempre.

È claro que o Fome Zero não é uma política pública que visa apenas combater a fome. Seu objetivo é estrutural. Os 10% mais ricos da população detém 45,7% da riqueza nacional, enquanto os 50% mais pobres são obrigados a dividir entre si 13,5% da renda nacional, segundo os dados estatísticos do IBGE. Com isso, é óbvio e evidente que o tamanho de nossa desigualdade social é gigantesca.

O índice de mortalidade infantil, por exemplo, beira 30 óbitos em cada 1000 nascidos vivos. Números extremamente alarmantes, uma vez que, a principal causa é a fome, maquiada pela desnutrição, diarréia, febre alta, etcétera e tal. E para ser mais objetivo, são as crianças as principais vítimas da falta de alimentação em quantidade e qualidade suficientes.

Perante Deus somos irmãos e irmãs entre si e é inadmissível assistir meus irmãos e irmãs morrem por falta de ter o que comer.

O meu cálice transbordou.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo.

Um comentário:

claudinei p disse...

Olá amigo,olha esta é uma materia fantastica gosto destes comentários, continua nos informando as tragedias e acontecimentos em nosso país e em outros tmb.Parabéns pelo trabalho,abraços.