22.1.07

Os 63 anos do Hitlerismo


(*) Wessery Zago

BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS


Estamos a caminho do 63.o aniversário do Holocausto Nazista. É bem verdade que, seis décadas depois, a ofensiva ideológica conservadora já é suficiente para que ninguém se escandalize com a eleição de um Papa que integrou a Juventude Hitlerista e serviu como atirador nas Forças Antiaéreas de Hitler. Mas a memória dos heróis que lutaram e morreram lutando contra a opressão, muitas vezes em condições desesperadoras, persiste enquanto a coragem se faz necessária para afrontar o "IV Reich".

Os poucos milhares de judeus na Varsóvia de abril de 1943 haviam sobrado das deportações para os campos da morte, mas sabiam que por pouco tempo. Himmler prometera Hitler, como presente de aniversário no dia 22, uma "Varsóvia sem judeus". Portanto, os infelizes entocados nos buracos do gueto sabiam que nada tinham a perder quando, na manhã do dia 19, as tropas da SS vieram esvaziar os prédios para conduzí-los aos trens que partiam para Auschwitz e Treblinka.

O que os porcos da suástica não sabiam é que, contra toda probabilidade, jovens militantes esquerdistas comandados por Mordechai Anielewicz e outros heróis haviam criado uma Organização Judaica de Combate, rede militar clandestina de poucas centenas de combatentes armados com revólveres contrabandeados, coquetéis molotov, facões, porretes e pouco mais. Ao adentrar confiantemente o gueto e começarem as batidas nos edifícios, os verdugos nazistas foram inesperadamente atacados pelos até então passivos judeus. Tomados pela surpresa, recuaram desorganizadamente, deixando para trás numerosos soldados mortos e uma resistência triunfante, que se apossou do armamento deixado para robustecer sua capacidade de combate.

Naturalmente, os nazistas voltaram. Mas a OJC, lutando com o desespero dos que preferem morrer de pé, lhes opôs (sem virtualmente qualquer ajuda exterior) uma resistência encarniçada, aproveitando a geografia do local, cheio de sótãos e porões, muito adequada á luta urbana; e usando táticas de guerrilha que aterravam os alemães, até então crentes na incapacidade militar de suas vítimas. Apenas depois de três semanas em que tiveram que recorrer ao uso de artilharia, bombardeios aéreos, lança-chamas e outros aparatos bélicos, puderam as hordas hitleristas sufocar a resistência organizada que sobrevivia nas últimas casamatas dos porões do gueto.

O gueto foi arrasado, e os habitantes que não foram mortos pelos tiros, pelas chamas ou pela fome foram deportados para morrer nas câmaras de gás. Pouquíssimos resistentes e civis escaparam, utilizando os setores da rede de esgotos que não haviam sido bloqueados e se refugiando nas florestas em redor de Varsóvia. Os nazistas varreram todo o setor urbano, que chegara a abrigar 500 mil judeus em condições subhumanas.

Um ano e pouco depois, foi a vez da resistência polonesa no resto da cidade se levantar contra o invasor, mas novamente sem sucesso. Varsóvia foi varrida do mapa por ordem de Hitler, evacuada e dinamitada até só sobrarem um monte de escombros, nos quais ingressou o Exército Vermelho em Janeiro de 1945.

Mas a coragem daqueles heróis persiste na história, quando vemos (ironicamente) os fedayin palestinos e os mujahidim iraquianos enfrentando novamente uma formidável máquina de guerra com poucos recursos mas muita coragem. Ontem, como hoje, as mentiras não conseguem encobrir de que lado está a honra.

E nós brasileiros deveríamos nos perguntar porque valorizamos tanto nossa apática e abusada miséria, em vez de nos levantarmos e lutarmos como pudermos, antes que sejamos totalmente esmagados pelos opressores. Eles sempre se encorajam com a passividade, e recuam diante da luta determinada.

Esta é a verdadeira lição dos milhões que pereceram no Holocausto, esperando com a paixão e lógica de seus carrascos; e dos heróis do Gueto, que sabiam bem que o único fascista que não oferece perigo é aquele que já foi morto.

É, também, bom lembrar dos 100 milhões de seres humanos massacrados na Rússia, China, Camboja, Cuba, Coréia do Norte. Também é difícil acreditar que pessoas continuem vivendo em favelas, ou mesmo nos bairros ricos do Rio de Janeiro, tomando tiro a esmo, ao invés de emigrar. O que ocorreu na Europa não é muito diferente do Brasil. Se você joga o sapo na água fervente, ele pula fora. Se você bota o sapo na água fria e vai esquentando devagarzinho, ele morre cozido.

(*) Wessery Zago é Jornalista, escriror e teatrólogo

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