11.1.07

Crônica

Guerra Santa?

(*) WESSERY ZAGO

BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS

Ao escrever essa crônica um colega me pergunta: Não se justificaria, aos olhos de Deus, uma guerra para libertar um povo da tirania de um déspota, sanguinário e que gosta de ser adorado como um deus? Não se justificaria uma guerra para trazer pão e prosperidade a um povo subjugado há décadas”?

Quando se trata de religião, o coração deixa de ser a usina de bons sentimentos para converter-se em matriz do ressentimento.

A história diz que em 1095, durante o Concílio de Clermont, o papa Clemente III convocou as cruzadas para libertar a Terra Santa do domínio dos infiéis. O clamor de Clemente foi levado à todos os cantos da Europa, arrebanhando grandes contingentes de pessoas que se colocaram a serviço do papa e dos comandantes do movimento.

Adolf Hitler, com sua doutrina criminosa e racista, escravizou a Alemanha e executou o genocídio dos judeus. Foi justo as nações aliadas fazerem guerra ao criminoso regime nazista. Hoje, depois de séculos de guerra – a maioria relacionadas com religião -, os europeus, finalmente, chegaram a uma conclusão: religião e Estado devem caminhar separadamente.

Do mesmo modo, foram justas as cruzadas feitas para proteger os cristãos que peregrinavam à Jerusalém, e que eram cruelmente impedidos de praticar atos de fé pelos turcos muçulmanos que haviam invadido as terras cristãs, e massacravam os que não se submetiam à lei de Maomé. As Cruzadas foram guerras defensivas, e a defesa da vida e da fé é sempre um direito.

A atual “Guerra Santa” desencadeada no Líbado para a libertação da antiga Palestina colocou na mídia internacional o massacre indiscriminado de homens, mulheres e crianças. Muitas crianças. Não é difícil ver onde está o problema. O problema dos problemas no Líbano é a convivência entre os diferentes. A tolerância versus a intolerância.

Portanto - respondendo ao meu colega –, sinceramente, não sei se há guerras justas. Posso dizer que, na Sagrada Escritura, por exemplo, se fala das guerras justas de David e de Judas Macabeu. Grandes santos, também, fizeram guerras e cruzadas: São Luís rei de França fez duas. A Santa Joana d'Arc foi a "santidade em armadura", a "virtude revestida de couraça".

Me lembro até de uma frase de Santa Joana: "Só se encontrará a paz na ponta de uma lança".

Mas... Hoje em dia qualquer criança compreende que a prioridade do direito à vida é algo simplesmente lógico, que flui da natureza das coisas. O direito à vida é dado à todos. É inviolável.

A vida não é dada pelos homens, pela sociedade ou pelo governo, e quem não é capaz de dar não deve ter o direito de tirar. Mesmo assim, deixo aqui uma pequena pergunta: Quando seremos capazes de descobrir os outros e tratá-los em pé de igual dignidade?

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo

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