2.1.07

Deus está morto


Deus está morto!

(*) Wessery Zago

BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS

"Quem deixa a Deus fora das suas contas, não sabe contar"

Gott ist tot! Traduzido do alemão para o português:Deus está morto!” Essa frase, talvez, tenha sido a frase mais falada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche e a mais mal interpretada de toda a filosofia.

A frase não é nem uma exaltação, nem uma lamentação,mas uma constatação que Nietzsche traçará um projeto filosófico de superar Deus.

Para se falar de religião é preciso ter fundamentos. Para se falar de ciência é preciso, primeiramente, de provas.

É sabido que a classe científica mundial não acredita em um ser divino. Deus não existe para eles. Em Nova Iorque, divido o assunto com minha amiga e conterrânea Arilda Costa e ela se pronuncia de uma maneira sábia e peculiar. “Tem um frase em inglês muito interessante que diz It is not happens to you but how you react to it!”, diz ela. A tradução - o importante não é o que acontece com você, mas como você reage aos acontecimentos – me faz refletir e chegar a uma conclusão.

A teoria que explica o surgimento do homem pelas mãos de Deus, negando qualquer evolução da espécie, pode vir a parar nas salas de aulas da rede pública estadual. No Rio de Janeiro, o assunto defendido publicamente por Rosinha Garotinho, a inclusão no ensino, ganhou força entre os professores de religião, credo evangélico da rede. Esse estudo reacenderá a velha briga entre religião e ciência.

Rosinha não quer saber de conhecimentos científicos quanto à origem do mundo. “Homem e mulher descendem diretamente de Adão e Eva e não são frutos da evolução”, disse. Para os cientistas, a existência de Deus deveria ter uma grande importância filosófica. No entanto, alguém já disse que os cientistas ateus perdem a objetividade e tornam-se passionais quando o debate é sobre Deus, religião etc. O que é curioso. Um exemplo de como a ciência parece recear o tema: “o peixe tal, que vive nas profundezas do oceano tal, desenvolveu um órgão que se ilumina para atrair suas presas”. Sejamos científicos. O peixe desenvolveu-se?

Blaise Pascoal soube separar a ciência em sim, do ser humano, e não aceitou o matematicismo de Descartes, como reducionismo em relação à realidade humana. O coração tem razões que a própria razão desconhece e, por isso, a ciência e a técnica sempre ficarão aquém. É difícil dar uma resposta definitiva quando o assunto é o homem.

O século XX foi o século da morte de Deus. Não só a ciência desprendeu-se definitivamente de qualquer apelo ao sobrenatural, como a maioria das constituições políticas dos novos regimes que surgiram afirmaram sua posição secular e agnóstica, separando-se das crenças. Chegou-se até ao radicalismo soviético que pronunciou-se como um Estado ateu. Se bem que a religião ainda constitui um poderoso fator de mobilização das massas e um, até agora, insubstituível apoio ético e moral, deve-se reconhecer que as elites modernas deram as costas a Deus. Mas esse gigante da religião, da teologia e da imaginação prodigiosa dos homens, não morreu de uma vez só. Foi morto aos poucos ao longo do século XIX, de Laplace a Nietzsche.

“Se Deus ainda é vivo e ativo, o lógico é procurar discernir sua atividade na nossa história atual. Uma Igreja que não se identifica com o mundo, com a mesma intensa solidariedade que Deus tem por ele, trai sua missão. Nossas várias doutrinas herdadas surgiram do esforço da Igreja para falar em diferentes idades do mundo. Podemos ver que o significado de qualquer trecho de doutrina não é fixado nem fechado. Se Deus age no mundo dos eventos seculares e se a responsabilidade do seu povo é discernir sua ação, isto requer uma teologia secular". "Os cristãos podem reunir-se para se consultarem uns aos outros acerca do que agora está fazendo Deus no mundo secular, participando, assim, alegremente na missão secular de Deus".

Eu finalizaria e completaria a frase de Nietzsche: “Deus está morto e QUEM MATOU FOMOS NÓS”.

(*) Wessery Zago é jornalista pós graduado em política, escritor e teatrólogo.

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