9.1.07

Crônica

Dar tempo ao tempo


(*) WESSERY ZAGO

Belo Horizonte/Minas Gerais


Os temas em questão retrata a crescente onda de migrante para os grandes centros urbanos, a gentileza urbana dos cidadãos belo-horizontinos e o isolamento político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os últimos anos da história do Brasil formam uma lista impressionante de mudanças. Ondas de migrantes encheram os grandes centros urbanos. Era a maioria da população moradora das regiões rurais. Agora 80% do povo brasileiro moram nas cidades.

Em Belo Horizonte - cidade com mais de 2 milhões de habitantes - a população rural, praticamente, não existe. O armazém da roça, com pouca coisa e cinco dedos de prosa, transformou-se num supermercado de muitas opções e poucas palavras. Brasília nasceu e consolidou-se como centro do governo e, Rio de Janeiro ficou cidade maravilhosa para cariocas e turistas. Não exige muito esforço para se imaginar os efeitos deste fluxo constante de mudanças na mentalidade do povo. Para muitos o impacto foi grande e grande demais. O ritmo tranqüilo da vida e do trabalho no extenso espaço da zona rural virou a correria, a presa, a multidão de desconhecidos da cidade. O que era uma vez simplicidade e convivência estável transformou-se na abundância de ofertas de mil e um produtos, muito barulho e muita prudência para passar pelas ruas e passar para o outro lado, com o celular na orelha e gesticulando com braço livre.

A integração na vida do asfalto e sua complexidade exigem tempo e elasticidade mental. Mas, ainda, exige tempo de integração num novo Brasil em que haja um lugar decente para todos e garantia de uma vida em paz e segurança. Neste contexto as palavras de amor e justiça, usadas nas igrejas e nos discursos políticos voam e somem com rapidez. Ficam sem efeito na medida em que cada um procura defender sua vidazinha, seu status, seus privilégios e favores, sem olhar os outros, a totalidade de um povo de cento e oitenta milhões de pessoas, das quais dizem, que tem direitos iguais.

Crise e reformas são palavras chaves do tempo atual. O que nesta história se esquece, às vezes, é o fator tempo, gastar tempo. A tradicional esperança do milagre, geralmente, é energia perdida. Nem a justiça, nem o amor fraterno e nem a reforma social cairão do céu sem a colaboração generosa e paciente da população. Por longa experiência feita, a sabedoria popular cunhou a expressão: dar tempo ao tempo.

Para construir uma sociedade mais humana, não adianta virar a mesa de pernas para o ar. Tempo e constância são fatores indispensáveis para fazer as mudanças sonhadas na vida pessoal, familiar e social resultar em fatos novos, reais e melhores para todos.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo

Nenhum comentário: