17.8.07

A queda de "Golias"


(*) Wessery Zago
BELO HORIZONTE – MG


Num mundo globalizado como o que vivemos as causas de uma crise econômica podem ser incontáveis. Mário Covas já dizia: “no mundo de hoje, se lá no Japão alguém dá um espirro, nós aqui no Brasil, dizemos “saúde”.Tudo é muito frágil e estável. Muitos e variados fatores podem ocasionar uma crise econômica, a exemplo do que aconteceu nos países asiáticos, na Rússia, no México, no Brasil, na Argentina e, agora, no gigante “Golias”: os Estados Unidos da América. Cada caso é um caso.
Mesmo sabendo que tudo o que se refere à economia, principalmente na macroeconomia, é muito complicado, por culpa dos próprios economistas, e para eu um jornalista com pós-graduação em política, fica difícil e temerária uma explicação técnica. Portanto, lanço ao leitor uma opinião, que desde já, digo que, nesse caso da atual crise econômica mundial as causas são tantas e remotas que vão desde da incompetência de governos, à corrupção política, interesses ocultos, etecétera e tal.
Bem como Luiz Suzigan, da LCA Consultores, também concordo que a política tem sua parcela de culpa e participação na atual crise. Tudo porque é ela - a política - que gera uma grande incerteza para o ano que vem. Simplesmente por medo. Medo que os investidores têm de mudança no modelo atual.
O governo sempre enxerga mal qualquer ruptura. Seja para beneficiar ou prejudicar. E isso faz com que qualquer investidor corra para uma moeda forte, que no caso do Brasil é o dólar. Nessa pressão cambial que agente está vivendo, a origem está, certamente, na evolução da economia internacional.
Guido Mantega, ministro da Fazenda, no “O Globo” (09/08), falou que a crise econômica não afetará o Brasil. Disse que o Brasil tem “dólar sobrando”. É verdade! As reservas brasileiras estão na faixa de USS 160 bilhões. USS 100 bilhões a mais do que no ano passado.
Mantega disse ainda que a crise não “deve” afetar a economia doméstica porque a inflação está sob controle. Sim!!! A inflação está sobre controle sim. Ao menos por enquanto.
Não devo entrar na discussão sobre um juízo de valor a cerca da política de estabilização, pois o nível dos juros pode ser encarado como o preço apagar por uma moeda estável. Mas, ninguém pode negar: juros altos elevam dívidas.
É evidente que o colapso das bolsas de valores traz à mente um “fantasma” que no passado assustou muitos os brasileiros: a volta das crises financeiras do fim dos anos 90. Prejuízos bilionários, fuga de capitais, risco de inflação e aumento de juros, foram os principais “espectros fantasmagóricos”.
Na tarde de ontem (16/08) o mundo assistia a maior queda nas bolsas asiáticas desde 2001. Tóquio registrou queda de - 2%. Seul foi a - 6,7%. Nova Iorque registrou a máxima de 10% negativos. No final do pregão voltou a subir e estacionou-se nos - 2,5%. No Brasil a Bovespa chegou a cair 8,33% negativos. Recuperou-se e ficou nos – 2%.
Os mercados de ações são por natureza lugares de tensão, ansiedade e risco. Quem já investiu seu dinheirinho na bolsa sabe disso. O passado, ministro Mantega, nos ensina que, quando um movimento desses começa, pode ser o sinal de que algo muito pior está para acontecer. E para ser, ainda, mais claro senhor ministro, nos mercados de ações, previsões são tão certeiras quanto aviõezinhos de papel.
Quando o colapso do comunismo tornou-se evidente, o renomado escritor Francis Fukuyama publicou o seu consagrado livro intitulado “O Fim da História”. Sua análise mostrou ao mundo que o esfacelamento de um dos sistemas políticos e de valores que dividiu o mundo conduziu a um ponto de chegada no processo histórico. A superação das contradições gerava as bases para a homogeneização das crenças. Finalmente, o ocidente podia impor suas crenças e valores a nível internacional. Num curto espaço de tempo depois, esta visão de um mundo reunificado em torno dos valores ocidentais – mais completamente anglo-saxões – se via plasmada no chamado Consenso de Washington.
Para quem, ainda não sabia, o termo Consenso de Washington foi batizando pelo economista John Williamson para descrever a visão coincidente do rumo a seguir que, após o fim da Guerra Fria, tiveram o governo de Washington, os centros de investigação, dessa cidade e os organismos econômicos internacionais com sede nela, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, mais conhecido como FMI.
Adivinhem quem deveria dirigir a nova arquitetura econômica global sob a égipe do livre mercado?
Acertou quem disse Washington.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo.

Foto memória:

Operadores da Bolsa de Nova York na semana passada. O colapso trouxe à mente as lembranças de crises das décadas passadas

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