1.1.07

Crônica

A descoberta dos outros...

... o abraço da paz é dado a todos

WESSERY ZAGO

BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS

Normalmente ninguém gosta de expor seus defeitos e sombras para todos vê-los e dar seus comentários. Apesar de certas exibições há ainda um senso de pudor nos filhos e filhas de Adão e Eva que talvez passe mal em épocas de emancipação, mas não colocam a sem-vergonha no trono da adoração pública.

Também em análise de uma cultura, do caráter de um povo, costuma funcionar o mesmo mecanismo. Cada povo tem sua grandeza humana e seu orgulho. Seria uma injustiça e deseqüilíbrio, falar um defeito, sem descobrir primeiro de qual virtude este defeito é a sombra histórica.

Na atualidade, vários movimentos de emancipação demonstram a desordem social que é camulflada pela bandeira da ordem, "justiça" e progresso. Apesar de certas medidas legais e nomeações, os negros continuam a levar a cruz da escravidão. O já longo processo da emancipação e igualdade das mulheres na sociedade dos homens já ultrapassa, ao menos em teoria, "o objetivo de cama e mesa", mas em muitas fotografias de gente importante no poder as mulheres são ainda uma pequena minoria. Nos conflitos entre trabalhadores sem terra e fazendeiros não se espera rápida solução ou pacificação dos espíritos. O que dizer de greves e protestos e violências que sacodem a sociedade? Reivindicações justas ou consideradas justas não faltam.

Atrás de todas estas turbulências sociais, políticas e culturais há uma necessidade premenente de descobrir os outros e quebrar o pequeno mundo de interesses e visões próprios, principalmente dos defensores de sua "ordem". Enquanto a mulher fica "o segundo sexo", o operário apenas despesa para o patrão, o negro três degraus abaixo do branco, o sem terra sem terra para produzir, o sem teto sem casa decente, a sociedade experimentará conflitos, lutas e violência, que não se resolvem com polícia, condomínios fechados, jagunços e cachorros bravos.

A descoberta dos outros enxergará e viverá o que há de comum entre os seres humanos, atrás das diferenças e distâncias que a história social tem criado. Seja o berço de ouro ou apenas o chão, todas as pessoas nascem iguais e sem proteção. Todas também morrem iguais e não levarão nada desta terra. Na condição humana todo desejo, plano ou projeto incluem a condição: enquanto seu criador viver, pois, em muitos municípios há sinais de que o sucessor abandonou a obra e olhou para outro lado.

Para os cristãos, todos são criaturas e filhos de Deus e são irmãos e irmãs entre sí. O abraço da paz é dado a todos que estão por perto. É uma festa. Mas, o povo tem razão: festa acaba e pé na estrada para descobrir que, a realidade comum, o palco comum de vida é mui diferente. A idéia de Jesus de colocar uma criança no meio destes homens e suas rivalidades e ciúmes é genial. Mas...

Quando seremos capazes de descobrir os outros e tratá-los em pé de igual dignidade?

(*) Wessery Zago é jornalista pós-graduado em Política, escritor e teatrólogo escreve nesse espaço e assina a coluna de política.

E-MAIL´S PARA: jornalistawesseryzago@hotmail.com ou wesseryzago@ultimapalavra.com

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