20.7.07

Reivindicações de esquerda

(*) Wessery Zago
BELO HORIZONTE/MG

Será que reivindicar direitos é mesmo coisa somente de esquerda?
Dias atrás, numa daquelas longas noites no aeroporto de Brasília, depois de horas de espera, devido a adiamentos de vôos, entrei num interminável desespero. Assistia uma cena interessante e raciocínio confuso que mostrava a força da ideologia como geradora de preconceitos que impede a percepção do real expresso nos interesses encobertos nas relações visíveis e nas notícias dos jornais.
Exausto pelo trabalho e ansioso para retornar às Minas Gerais, pude ver que o consumidor é sempre enganado e nunca têm seus interesses respeitados. Acompanhei atentamente um grupo de “jovens revolucionários” ensaiando uma manifestação com palavras de ordem contra o atraso dos vôos sem nenhuma, absolutamente nenhuma, satisfação convincente.
Alguns, certamente, lembrarão que no dia 3 de abril de 2007, escrevi no jornal O Rebate (www.jornalorebate.com), da cidade de Macaé (RJ) e também no globoonline, artigo intitulado: “Nem mesmo as bruxas...”, numa referência de que nem mesmo elas, com suas vassouras mágicas, conseguiam decolar nos aeroportos do país. No mesmo artigo, acrescentei: “esse pepino ou abacaxi – como queiram -, dos aeroportos está longe de ser descascado”. E disse mais: “Essa pendenga não se resolverá tão cedo”. Passados 4 meses, o problema continua.
As verdadeiras razões da crise nos aeroportos nunca foram totalmente expostas e explicadas. E é claro que não devemos voltar nossa atenção para a culpa apenas do governo mas, também, sobretudo, para companhias. O aumento de 41,7 milhões de passageiros para 57,6 milhões de passageiros anualmente, relacionada, ainda, com a frota de aviões que despencou de 366 para 230 (37%) – em parte – se deve à crise da Varig, até então a principal companhia aérea do país. Em um período de um ano (2005/2006), a empresa perdeu 73 aeronaves.
Diante desse colapso da Varig e do aumento de passageiros, tanto a Gol quanto a TAM – principais companhias nacionais – passaram a operar, absolutamente, no limite, mantendo suas margens de lucro na estratosfera.
Como o crescimento do número de assentos não acompanhou o aumento de passageiros, os aviões que no passado voavam com metade de sua capacidade, hoje tem 72% - em média – de ocupação. Esse índice ainda está dentro dos padrões internacionais, mas num futuro bem próximo, segundo projeções, essa taxa subirá para 89%. O risco é o aprofundamento do colapso.
Com a parada de seis aeronaves da TAM e seu ganancioso overbooking natalino, 340 mil passageiros deixaram de embarcar. Se a TAM é responsável por 48% dos vôos domésticos no Brasil, qualquer irresponsabilidade ou problema da companhia tem efeitos em cascata sobre todo o sistema.
Juntas as TAM e a Gol detém 86% das vendas de bilhetes e esse duopólio tem proporcionado ganhos extraordinários às empresas em um período mais traumático para os usuários da aviação brasileira.
Lucros de 3% e 5% são comemorados pelas empresas de aviação. Numa época que boa parte das companhias aéreas americanas e européias amargam grandes prejuízos, as companhias brasileiras conseguem atingir lucros exorbitantes que só acontecem devido a pouca concorrência nos quais os passageiros perdem em matéria de qualidade de serviço.
Mesmo com lucros astronômicos, as companhias aéreas brasileiras são, também, as principais responsáveis por inúmeros acidentes e incontáveis mortes. O acidente ocorrido na semana passada no aeroporto de Congonhas (SP), com uma aeronave da TAM, foi por falta de manutenção. Quase 200 mortes já foram contabilizadas. E esse número tende a aumentar.
O problema do Brasil é que vamos acumulando crises numa velocidade muito maior do que a nossa capacidade de resolvê-las. Crise aérea, crise política, crise econômica, crise agrária.
A reforma agrária é outro problema antigo. Todos os governos que entram prometem distribuição de terra, mas ela é feita de maneira precária, sem criar condições para que, aqueles que recebem a terra, possam viver nela produzindo.
Há também os sem-teto. Muitas famílias sem casa e sem acesso à habitação. Isso acaba gerando conflitos de invasão e radicalização de ambas as partes, poder político e invasores.
A educação, por si, tem sido muito maltratada, e não é de hoje. Os sem-educação, à margem do processo de formação do indivíduo, são presas fáceis do crime organizado e entram em outra categoria assustadora, que é a dos sem-futuro.
Grande parcela da população nunca foi ao cinema, ao teatro, a um concerto, a um espetáculo de dança, a uma exposição de arte. Não tem acesso à cultura, tão essencial para que um país se desenvolva. São os sem-cultura.
O senado nacional está no caos. Parece um daqueles filmes policiais que sempre mostra quadrilhas e organizações criminosas e em sua estrutura básica, um poderoso e quase (eu disse quase) indestrutível “chefão”.
É comum no decorrer do filme que, aos poucos, cada um da organização criminosa, um a um, vai sucumbindo e o último a cair é o tal “chefão”.
O interessante dessa história é que na cobertura do senador federal, pude notar que se é assim no filme, é também na vida real. Esclareço ao leitor que qualquer semelhança com os últimos acontecimentos em Brasília é mera coincidência.

(*) Wessery Zago é jornalista, escritor e teatrólogo

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